quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Trabalhador francano vive com R$ 34 por dia

Quinta-feira, 27 de novembro de 2008 - Jornal Comércio da Franca

Trabalhador francano vive com R$ 34 por dia
Gina Mardones/Comércio da Franca


COMPRAS - O sapateiro Nelson dos Santos segura sacolas de compras ontem em supermercado de Franca. Somente de carne foram R$ 40Marco Felippeda RedaçãoR$ 34,68 por dia.

Este é o rendimento médio diário de um trabalhador em Franca, segundo dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2007, divulgado nesta semana pelo Ministério do Trabalho. O valor é o quarto maior da região, mas perde do ganho médio do brasileiro (R$ 45,19), do paulista (R$ 53,04), do mineiro (R$ 36,74) e do trabalhador de Ribeirão Preto. Pelo levantamento que tem por base apenas os trabalhadores registrados formalmente, os homens são a maioria dos empregados e recebem, em média, R$ 1,1 mil por mês, enquanto as mulheres têm salário médio de R$ 958,93. A Rais leva em consideração o número de 69.841 trabalhadores com carteira registrada. O menor rendimento do trabalhador francano está na faixa dos 16 a 17 anos. Segundo o MT, os 1.904 jovens trabalhadores nesta idade ganham em média R$ 524,24. Enquanto que o maior, está na faixa etária dos 65 anos ou mais. Eles totalizam 400 pessoas, com renda média de R$ 1.540. Na região, o ganho médio diário de Franca é inferior ao de Batatais, Patrocínio Paulista e o da cidade mineira de Ibiraci (veja quadro nesta página). Se levado ao supermercado, com a quantia de R$ 34,68, um trabalhador quase não consegue comprar dois quilos de coxão mole, um pacote de arroz e dois quilos de feijão. Para o professor pesquisador e coordenador do Ceder (Centro de Estudos do Desenvolvimento Regional) da Unifran (Universidade de Franca), Agnaldo de Souza Barbosa, o valor também é baixo se comparado a outros centros urbanos semelhantes, industriais ou não. A explicação de Barbosa está no fato da maioria dos trabalhadores da cidade estar empregada em micro e pequenas empresas. “O percentual de empregados que depende dessas empresas é muito alto, supera os 70%. E elas (micro e pequenas empresas) não têm condições de pagar grandes salários”. O professor disse ainda que a expansão da quantidade de empresas de crédito e o crescimento no número de jovens que entram mais cedo no mercado de trabalho dão prova do quanto o rendimento do francano é baixo. “Franca tem características de cidade industrial e operária, onde o trabalho da indústria é quase artesanal, manufatureira, por isso também se paga pouco. Com baixo salário, a mulher precisa ajudar nas despesas e o filho começar a trabalhar mais cedo”.Se considerar uma família de quatro pessoas e todas as despesas de uma casa, o que inclui alimentação, moradia, água, energia, telefone, transporte, roupas e calçados, o rendimento se torna irrelevante. “Não dá para vislumbrar outros tipos de necessidades como lazer e educação de qualidade. A pessoa consegue sobreviver, mas com dificuldades”, disse Barbosa.



Sapateiro economiza no combustível



O sapateiro afastado Nelson dos Santos, morador no Parque Vicente Leporace II, esteve ontem num dos supermercados do bairro, na região norte de Franca, para comprar mistura para o restante da semana. Na compra de quatro quilos de carne, gastou R$ 40, valor superior aos R$ 34,68 médios recebidos por dia por um trabalhador francano. Na família do sapateiro, há três adultos e a carne será suficiente para, no máximo, quatro dias.Para ele, com essa quantia diária o sustento de uma casa com quatro pessoas é feito com dificuldades. “Em casa, a renda é um pouco maior e somos somente em três pessoas, ainda assim fico endividado. Se tivesse criança, não sei como seria”, disse. Santos ganha em média R$ 1800.No orçamento de Santos, economizar é palavra de ordem. Viagens de visita a familiares foram cortadas e o carro tem ficado por mais tempo na garagem. “Economizo no combustível. Tento andar o máximo possível a pé. De primeiro, vinha de carro no supermercado, agora deixo o carro na garagem”.Outras ações adotadas pelo sapateiro para administrar o dinheiro foram a anotação de todas as despesas e o fim de compras de necessidades secundárias, como calçados e roupas. “Tudo é controlado. Tento gastar o mínimo possível, ainda assim não dá e algumas contas ficam atrasadas”. Antes, segundo ele, compras em pequena quantidade no supermercado também aconteciam ao menos uma vez por semana, mas recentemente passaram a ser quinzenais.Nas despesas mencionadas por Santos estão as contas com energia, água e telefone, alimentação, transporte e a prestação do carro. “Quando apenas uma pessoa trabalha na casa, a situação fica apertada. Agora que meu filho começou a trabalhar, espero que as condições melhorem”.


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Ainda temos que ler no jornal do dia anterior: "O prefeito Sidnei Rocha (PSDB) retomou, ontem, um discurso feito por ele próprio há um ano e voltou a chamar o francano de pessimista. O tucano disse que a população deveria ser mais otimista e acreditar no potencial da cidade. “Todos gostam de falar em crise. Quando fecha uma fábrica, é uma festa. Franca não pode e não deveria ser uma cidade pessimista”. O comentário foi feito durante solenidade de liberação de financiamentos a pequenos empreendedores pelo Banco do Povo.No dia 6 de novembro de 2007, Sidnei causou polêmica ao afirmar em seu programa de rádio, o Bom Dia Prefeito, de sua Rádio Hertz, que os francanos têm “doença coletiva ou frustração” por nunca estarem, segundo ele, satisfeitos com a situação da cidade, além de manifestarem “negativismo, insegurança e pessimismo”. Logo após vencer as eleições, com ampla aprovação popular, disse que a campanha que fez para melhorar a auto-estima da cidade havia dado resultados."




Será que Franca, o grande pólo do calçado, uma cidade conhecida devido às grandes fábricas, com uma população composta de mais de 60% de sapateiros, não teme a crise devido justamente a isso? Quando UMA fábrica fecha em Franca, não é UM empresário falido, ou UMA família que deve mudar a localização da indústri. São CENTENAS de trabalhadores desempregados! São MILHARES de famílias sem sustento. Um trabalhador em Franca que já é um dos que recebe menos de toda a região, quando perde esse sustento mínimo viverá de quê?
E Franca é pessismista? Franca seria pessismista ou o prefeito que seria desligado de alguns dos problemas da população?

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